José Henrique Mariante
Moscou, Rússia (Folhapress) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou a expectativa de perguntas sobre a crise do INSS durante uma entrevista a jornalistas na manhã deste sábado (10) em Moscou. ‘Graças a Deus, a CGU e a nossa Política Federal, no processo de investigação, com muita inteligência, sem nenhum alarde, conseguiram desmontar uma quadrilha que estava montada desde 2019.’
Logo após, a questão foi levantada, e a menção a 2019 teve destaque. ‘Vocês sabem quem governava o Brasil em 2019. Vocês sabem quem era ministro da Previdência em 2019. Vocês sabem quem era chefe da Casa Civil em 2019.’
Em 2019, o presidente era Jair Bolsonaro, e Onyx Lorenzoni ocupava o cargo na Casa Civil. ‘A gente poderia ter feito um show de pirotecnia, mas não queremos uma manchete criminal, mas sim apurar. As entidades que roubaram terão seus bens congelados… para que possamos pagar as pessoas.’
Com isso, Lula tenta desviar o foco de seu governo, que está sob pressão devido à gravidade da fraude que desviava dinheiro dos aposentados do INSS e à disputa interna originada por esse caso. O atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, criticou o chefe da CGU, Vinícius de Carvalho, para reforçar a narrativa de que a culpa não pertence ao governo Lula, enquanto a própria Casa Civil ignorou um processo de improbidade administrativa contra André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS e um dos investigados na operação, ao avaliar sua nomeação em 2023.
Durante a celebração dos 80 anos do fim da Segunda Guerra, Lula ressaltou que o caso é grave porque afeta diretamente os aposentados. ‘Não foi dinheiro dos cofres públicos que foi desviado, foi dinheiro do salário dos aposentados.’
‘Eles não foram no cofre do INSS, foram no bolso do povo. É isso que nos deixa mais revoltados. Por isso, vamos fundo para saber quem é quem nesse jogo; e se tinha alguém do governo passado envolvido nisso.’
Os descontos indevidos teriam iniciado em 2019, e a maioria das entidades fraudadoras foi criada e assinou convênios com o INSS durante a gestão Bolsonaro. Os descontos, no entanto, dispararam e atingiram cifras bilionárias após 2022.
Ampliar a investigação é uma estratégia do governo no Congresso para evitar a criação de uma CPI. Davi Alcolumbre, presidente do Senado e que acompanha Lula em sua viagem internacional, já indicou a parlamentares que é contra a instalação de uma CPI.
‘O que posso dizer é que as vítimas não serão prejudicadas. Quem vai ser prejudicado são aqueles que um dia ousaram explorar os aposentados e o povo brasileiro’, declarou Lula, afirmando que o ressarcimento imediato vai depender do número de afetados, mas que será realizado.
Após a entrevista, Lula partiu para Pequim, onde será recebido pelo líder Xi Jinping em uma visita oficial de dois dias.