SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As políticas comerciais implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm gerado expectativas de um impacto prolongado na economia global. O relatório Chief Economists Outlook, divulgado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial, revela que o crescimento econômico poderá ser mais lento, acompanhado de incertezas políticas.
O levantamento contou com a colaboração de 67 economistas-chefes de diversas instituições e empresas, com as entrevistas realizadas entre 3 e 17 de abril deste ano.
De acordo com a maioria dos especialistas consultados, as tarifas elevadas e as tensões comerciais persistentes estão propensas a provocar um aumento da inflação, além de reduzir o fluxo do comércio global. Essa incerteza contínua no comércio internacional pode acarretar danos significativos à economia mundial.
Uma alarmante 79% dos economistas afirmam que as mudanças em curso refletem uma transição estrutural de longo prazo, em contraste com um cenário de choque temporário, um aumento em relação aos 61% registrados em novembro de 2024.
O período de avaliação coincidiu com o agravamento da instabilidade nas relações comerciais internacionais, especialmente após a implementação de novos pacotes tarifários, que elevaram as alíquotas de importação da China a 145%.
Embora parte dessas tarifas tenha sido suspensa temporariamente após um acordo provisório entre os EUA e a China, a instabilidade permanece alta. O relatório indica que 82% dos economistas consideram o nível de incerteza global como “muito alto”, superando os índices observados durante a pandemia de Covid-19.
O impacto econômico é diversificado: um terço dos entrevistados acredita que os pacotes tarifários prejudicarão a economia mundial como um todo, enquanto 53% consideram que os efeitos negativos afetarão tanto os EUA quanto os países atingidos pelas medidas. Além disso, 77% preveem uma elevação da inflação global e 89%
Esse ambiente de incertezas tem levado as empresas a reconsiderar suas estratégias. 87% dos economistas concordam que muitas empresas devem adiar investimentos e reorganizar suas cadeias produtivas para mitigar a exposição às tarifas. Também se espera um aumento da fragmentação geoeconômica, com 98% dos especialistas prevendo que os fluxos comerciais e financeiros se alinharão a blocos geopolíticos.
PERSPECTIVAS REGIONAIS
Na América Latina, 55% dos economistas preveem crescimento fraco, enquanto o FMI estima uma expansão de 2% para a região em 2025, devido ao impacto negativo das tarifas americanas, particularmente no México, que teve sua previsão de crescimento ajustada para -0,3%. Por outro lado, a Argentina espera um crescimento de 5,5% graças a reformas fiscais e estruturais.
Nos Estados Unidos, 77% dos economistas antecipam um crescimento fraco ou muito fraco em 2025. A inflação projetada para os próximos 12 meses é de 7,3%, a mais alta desde 1981. Embora o índice acumulado tenha sido de 2,3% no mesmo período, 76% dos entrevistados acreditam que o dólar continuará se desvalorizando.
Na Europa, o cenário é relativamente mais positivo, com 50% dos entrevistados prevendo um crescimento moderado. A política fiscal expansionista da Alemanha e as perspectivas de cortes adicionais na taxa de juros pelo Banco Central Europeu também são fatores que podem impulsionar esse crescimento.
No sul da Ásia, o desempenho robusto da Índia deve levar a um crescimento de 6,2% neste ano, enquanto a China poderá enfrentar dificuldades para atingir sua meta oficial de crescimento de 5%.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Outro ponto abordado na pesquisa foi a utilização da inteligência artificial (IA) como um fator transformador, mas com efeitos ambíguos sobre o crescimento. Para 81% dos economistas, a tecnologia poderá adicionar entre zero e dez pontos percentuais ao PIB global até 2035, com fokus na automação de tarefas e inovação.
Entretanto, 47% deles preveem uma perda líquida de empregos na próxima década, apontando que o principal risco associado à IA é a desinformação e a desestabilização social. Para lidar com esses desafios, 89% dos economistas afirmam que os países devem investir em infraestrutura de IA, e a maioria defende políticas que estimulem a adoção dessa tecnologia.
Entre as empresas, a adaptação aos processos internos, a formação de lideranças e a segurança de dados são destacadas como prioridades a serem alcançadas.