O produtor rural mineiro Cid Faria, 61 anos, já tentou trabalhar com gado e piscicultura, mas descobriu sua verdadeira vocação na produção de cachaça. Mudou-se para Brasília no início dos anos 2000 e há 8 anos transformou um galpão na Fercal, no Distrito Federal, em sua microempresa familiar, onde produz cachaça prata, um tipo de aguardente artesanal que não é envelhecida na madeira.
O sucesso foi imediato: a produção saltou de 1 mil litros em 2016 para 10 mil litros em 2024, com a conquista de 10 prêmios nacionais. Cid representa uma fatia de um setor que, apesar de seu crescimento, ainda enfrenta preconceitos. O Anuário da Cachaça, divulgado em 28 de agosto, revelou que no último ano o Brasil ganhou mais 1.225 registros de cachaça no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Crescimento Nacional
A produção nacional de cachaça alcançou em 2024 o volume de mais de 292,459 milhões de litros, um incremento de 29,58% em relação a 2023. O anuário, que contou com a colaboração do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), constatou um aumento de 20,4% no número de produtos registrados, totalizando 7.223.
Todos os estados do Brasil registraram crescimentos, com Minas Gerais liderando com 501 estabelecimentos. São Paulo aparece em segundo com 179, seguido por Espírito Santo (81) e Santa Catarina (73). O Ceará se destacou ao passar de 34 para 47 registros, um crescimento de 38,2%.
Desafios do Setor
Durante o evento de lançamento do anuário, representantes do setor clamaram por mais apoio governamental. Apesar de ser uma bebida tradicional brasileira, a cachaça ainda enfrenta estigmas. O presidente do Ibrac, Carlos Lima, destacou que o setor gera mais de 600 mil empregos, diretos e indiretos, e que as micro e pequenas empresas desempenham um papel crucial na fixação das populações rurais.
Lima também criticou a alta carga tributária sobre as bebidas alcoólicas e as regras mais rígidas de publicidade que a cachaça enfrenta, em comparação a destilados de baixo teor alcoólico, como a cerveja. “A cachaça é produzida com matéria-prima 100% nacional, a cana-de-açúcar”, defendeu.