SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar operava próximo da estabilidade em relação ao real nas primeiras transações desta quarta-feira (19), enquanto investidores aguardavam as decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e do BC (Banco Central do Brasil). O cenário é também marcado por incertezas geopolíticas globais.
Às 9h04, a moeda americana recuava 0,02%, cotada a R$ 5,6742 na venda. Na terça-feira, o dólar caiu 0,21%, encerrando a R$ 5,673 – o menor valor desde 24 de outubro do ano passado, quando fechou a R$ 5,663. A bolsa de valores, por outro lado, subiu 0,48%, alcançando 131.474 pontos, impulsionada pela alta das ações da JBS.
Hoje, o dia é moldado por expectativas em torno da “superquarta” e por incertezas no campo geopolítico. No Brasil, o foco está na proposta de aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, que foi justificada pelo governo Lula ao ser enviada ao Congresso Nacional.
A expectativa é que o Copom eleve a taxa Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 14,25% ao ano, conforme já sinalizado na reunião passad. O Fed, por sua vez, deve manter os juros na faixa de 4,25% e 4,5% pela segunda vez consecutiva, em meio a incertezas sobre a economia dos EUA devido às medidas do governo Trump.
A permanência da taxa de juros americana em níveis elevados tende a desestimular a busca por ativos de risco, incluindo moedas de mercados emergentes e ações, uma vez que as altas taxas dos títulos do Tesouro dos EUA oferecem segurança.
Porém, no caso do Brasil, a situação pode ser diferente. Quanto maior a diferença entre as taxas de juros, mais atrativo o real se torna para investimentos de carry trade, estratégia na qual investidores pegam empréstimos a taxas baixas para investir em moedas de países com taxas altas.
Com as decisões esperadas, a atenção recai sobre as respectivas comunicações.
Analistas avaliam que “o ponto de atenção refere-se à nova comunicação. O Copom deverá indicar que considera o momento propício para uma redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros na próxima reunião. Essa mudança refletiria o estágio avançado do ciclo de aperto monetário, cujos efeitos se manifestarão ao longo do tempo”, afirma Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos.
Sobre o Fed, especialistas do Bradesco consideram que, além da comunicação, “será importante observar as projeções dos membros do comitê, que devem levar a uma revisão altista da inflação, em virtude das novas tarifas aplicadas.” A proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais foi repercutida.
O mercado está preocupado que essa mudança – uma promessa de campanha do presidente Lula – possa agravar o cenário das contas públicas se não for adequadamente compensada. Segundo o ministro Fernando Haddad, a perda de arrecadação está estimada em R$ 27 bilhões, número revisado em relação à previsão inicial de R$ 35 bilhões.
Para equilibrar as contas, o governo planeja implementar um imposto mínimo sobre a renda alta, que afetará quem ganha a partir de R$ 50 mil mensais (R$ 600 mil anuais). A alíquota será gradativa, chegando a 10% para rendas a partir de R$ 1,2 milhão por ano.
A proposta de reforma do Imposto de Renda divulgada no final do ano anterior contribuiu, em grande parte, para o aumento de 27% do valor do dólar em 2024 no Brasil.
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, destacou que o projeto não trouxe surpresas negativas e que o tom conciliador do presidente durante a apresentação foi interpretado positivamente pelos investidores, resultando na valorização dos ativos de risco.
O contexto geopolítico também foi um ponto de destaque. A escalada dos conflitos na Faixa de Gaza, com ataques israelenses que resultaram em mais de 400 mortos, de acordo com fontes palestinas, gera preocupações.
Em contrapartida, Vladimir Putin, presidente da Rússia, aceitou um cessar-fogo temporário com a Ucrânia após conversas telefônicas com Trump. Embora não tenha concordado com uma trégua de 30 dias, proposta que já foi aceita por Kiev, ele concordou em suspender ataques mútuos à infraestrutura e à rede energética.
Esses desenvolvimentos aumentam levemente a perspectiva de melhora no ambiente de riscos geopolíticos, o que pode estimular o apetite por ativos de risco globalmente. Entretanto, conflitos comerciais e combates armados ainda geram cautela, uma vez que podem provocar instabilidades e distorções nas cadeias de suprimentos.