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Juliana Dal Piva detalha investigações sobre a família Bolsonaro no programa DR com Demori

Juliana Dal Piva detalha investigações sobre a família Bolsonaro no programa DR com Demori
© Paulo Pinto/Agência Brasil

A jornalista Juliana Dal Piva foi a convidada desta terça-feira do programa DR com Demori, exibido pela TV Brasil. Durante a atração, ela explorou os bastidores de suas investigações envolvendo a família Bolsonaro, revelando os desafios enfrentados ao longo do processo.

No bate-papo, Juliana também apresentou seu novo livro, que aborda o assassinato de Rubens Paiva durante a ditadura militar, e enfatizou a necessidade de responsabilização por crimes contra a humanidade.

Reconhecida por suas reportagens investigativas, Juliana foi responsável por matérias que fundamentaram o podcast A Vida Secreta de Jair e o livro O Negócio do Jair. Ao dialogar com Leandro Demori, ela apontou que o material coletado indicou um esquema de desvio de salários ligado aos gabinetes da família desde os anos 1990. “Era um esquema único em que o pai colocou os filhos na política para enriquecer e estabelecer tanto um poder político quanto um poder financeiro”, destacou.

A investigação, que se iniciou com um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, desvelou uma estrutura muito mais abrangente. Segundo Juliana, mais de 286 funcionários passaram pelos gabinetes da família ao longo de 30 anos. “A ex-cunhada dele, a Andréa Siqueira Valle, ficou 20 anos como funcionária fantasma entre o gabinete do Bolsonaro, do Flávio e do Carlos, devolvendo 80% a 90% do salário dela durante todos esses anos”, contou.

De acordo com Juliana, o manuseio de dinheiro em espécie era uma prática comum nos esquemas dos gabinetes. “A família Bolsonaro tem alergia ao sistema bancário”, criticou. “Nosso querido Pix, embora diga que criou – o que não é verdade -, mas tem alergia. TED, Pix, não chega, não gosta, dá urticária, entendeu?”, ironizou.

Ela afirmou que imóveis e outros bens eram adquiridos com altas quantias em dinheiro vivo, buscando evitar sistemas de controle financeiro e dificultar o rastreamento das operações.

As denúncias levantadas provocaram reações adversas. Juliana revelou que começou a receber ameaças após a publicação de suas reportagens, incluindo mensagens ofensivas, processos judiciais e ataques em redes sociais. Em 2022, uma decisão judicial impôs uma censura momentânea a uma de suas matérias sobre os bens da família Bolsonaro. “Ele apenas pede a censura, a retirada das matérias do ar”, comentou sobre a ação do senador Flávio Bolsonaro, que foi revertida pelo Supremo Tribunal Federal.

Um dos episódios mais graves enfrentados por Juliana no último ano envolveu sua imagem sendo utilizada em montagens falsas. “Forjaram conversas com a minha imagem, como se fosse um diálogo meu com uma pessoa que eu nem conheço”, contou.

Segundo ela, a montagem circulou por três meses, gerando uma onda de incitação ao ódio. “Recebi mensagens de pessoas que diziam que me viam perto da minha casa, incitando até ao suicídio, esse tipo de coisa”, disse.

Ela ressaltou que as consequências disso vão além do impacto no trabalho. “Esse tipo de coisa não é uma situação que afeta só a você, é você e sua família. […] É cansativo, eu só queria trabalhar em paz, cumprir minha função”, desabafou.

Juliana segue tomando medidas legais. “Aos criminosos, a lei. Eles foram denunciados, estão sendo investigados e também estou processando diversas pessoas por danos morais. Mas tudo isso consome tempo e energia”, enfatizou.

Além de seu trabalho investigativo sobre a família Bolsonaro, Juliana também se dedicou à cobertura do assassinato da vereadora Marielle Franco. Ao discutir a investigação, ela afirmou que o caso revelou falhas estruturais no sistema de segurança pública do Rio de Janeiro.

Ela observou que a condução inicial da apuração indicou contaminação e omissão. “O fato de a investigação não ter conseguido elucidar o caso desde o começo mostra a contaminação dela em si”, afirmou.

Juliana também lembrou que, naquela época, era de conhecimento público que a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro não investigava certos assassinatos ligados a bicheiros e milicianos. “Eles eram tratados como heróis”, afirmou, referindo-se a entidades como Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega.

A jornalista destacou que, desde a investigação do caso Marielle, surgiram informações sobre o chamado escritório do crime, um grupo de ex-policiais militares acusados de execuções encomendadas. Para Juliana, esse caso abriu portas para revelações mais amplas sobre uma rede de crimes sustentada por agentes públicos.

No final da conversa, Juliana apresentou seu novo livro, Crime sem castigo – Como os militares mataram Rubens Paiva, publicado pela Matrix Editorial. Esta obra refaz as quatro décadas de busca da família Paiva por justiça, trazendo documentos inéditos sobre a repressão durante a ditadura militar.

Juliana destacou que o caso de Rubens Paiva é emblemático por ser o primeiro homicídio do período ditatorial a ser judicialmente processado no Brasil, o que pode abrir caminho para uma reinterpretação da Lei da Anistia. “Isso pode possibilitar a discussão sobre o alcance da lei de anistia, para que os torturadores possam ser julgados por crimes que não deveriam ser anistiados”, ressaltou.

A jornalista argumentou que a discussão deve ir além do desaparecimento forçado, que é considerado um crime permanente, defendendo que o Supremo Tribunal Federal amplie o entendimento para incluir todos os crimes contra a humanidade, como assassinatos, torturas e estupros. “Todos os graves crimes de violações de direitos humanos […] devem ser passíveis de julgamento”, concluiu.

O programa DR com Demori vai ao ar todas as terças-feiras, às 23h, na TV Brasil, no aplicativo TV Brasil Play e no YouTube da emissora pública, disponível em TV Brasil. A atração também é transmitida pelas rádios Nacional FM e MEC.

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