SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em mais um movimento de retaliação à guerra tarifária iniciada por Donald Trump, o governo chinês ordenou que as empresas aéreas do país parem de comprar aviões da Boeing. A informação foi divulgada pelas agências de notícias na terça-feira (15).
A Bloomberg, que obteve informações de fontes próximas ao caso, ainda não confirmou declarações oficiais a respeito. Entretanto, essa decisão se insere no contexto de tarifas exorbitantes, que chegam a 145% nas importações chinesas estabelecidas por Trump.
Atualmente, a China é considerada o maior e mais promissor mercado de aviação global. A Boeing, em uma de suas projeções, prevê que a frota de aviões na China aumentará de 4.345 para 9.740 aeronaves até 2043, com grande parte desse crescimento focado em aviões de corredor, especialmente 6.720 unidades.
Atualmente, a Airbus detém a maior participação neste mercado, com 2.200 aeronaves entregues, representando aproximadamente 55% do total. Em contrapartida, a Boeing contabiliza 1.400 entregas nos últimos 20 anos, incluindo aeronaves mais antigas e aquelas adquiridas via leasing.
Esse cenário favorece a Airbus e a fabricante chinesa Comac. A Comac, que tem sua aeronave C919 voando desde 2023, enfrenta atualmente uma produção limitada, com apenas 12 entregas no ano passado e uma carteira de 713 encomendas.
Além disso, o governo chinês também suspendeu a compra de equipamentos que contenham partes americanas, o que acarretará em aumento nos custos de manutenção das aeronaves já existentes. Esse processo poderá afetar diretamente os preços operacionais das companhias aéreas.
As três principais companhias aéreas da China, Air China, China Eastern e China Southern, possuem 179 pedidos imediatos de aviões da Boeing. O impacto dessa decisão ocorre em um momento em que a Boeing tentava se recuperar de uma crise severa que a afetou ao longo dos últimos seis anos, principalmente devido aos incidentes envolvendo o modelo 737 Max.
A indústria da aviação ilustra bem a complexidade da guerra tarifária entre os EUA e a China, que totalizou US$ 650 bilhões em comércio em 2024, com um superávit chinês de US$ 295 bilhões.
Recentemente, a China também anunciou a suspensão da exportação de minerais raros, essenciais para a indústria eletrônica americana, ampliando as tensões comerciais entre as duas potências.